quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Crestando com Escapes de abelhas

"Assim enervas muito as abelhas" - disse-me muito sério um familiar que fui ajudar com a sua cresta, enquanto eu varria as abelhas dos primeiros quadros. Ora, eu até compreendo a sua preocupação, mas nem que eu lhes peça com jeitinho, elas não abandonam os quadros!
Sempre que posso eu também prefiro não "enervar" muito as abelhas, e talvez por isso tenha experimentado este ano pela primeira vez alguns modelos de Escapes de Abelhas.



Ainda me vi à rasca para arranjar mel para tanto Escape de abelhas mas lá consegui, mas pelo menos uma alça não tinha muitas abelhas! O primeiro utilizado foi o escape abelhas de 8 saídas que se encontra à venda nas lojas de material apícola e aparece à esquerda na foto anterior. Em relação ao que aparece à direita na mesma foto, que é o que referi no mês passado (http://abelhapreguicosa.blogspot.com/2010/07/faca-voce-mesmo-escape-de-abelhas.html), segui os conselhos dados nos comentários a essa mensagem, e o escape passou a ser de 8 saídas e a prancheta transparente foi substituída.
Para dar algum espaço às abelhas foram utilizados uns quadrados de 7cm de altura com a excepção de uma colmeia que tinha menos abelhas.
Os escapes foram colocados por volta das 18h e as alças retiradas pelas 9h do dia seguinte.




Não sei até que ponto esta segunda prancheta foi uma boa escolha visto que ainda tem cm e meio de espessura e também não sei se influencia alguma coisa o facto de ter tapado as junções das tábuas!

Esta era provavelmente a que tinha mais abelhas!



Outro escape de abelhas experimentado, desta vez um triangular ou "quebec", que para minha admiração funcionou muito bem!

De acordo com a página onde vi este ultimo modelo de escape, algures no site do David Cushman, os cds servirão para impedir que se formem cachos nas saídas mas não sei até que ponto serão mesmo necessários. De qualquer maneira podem servir para as abelhas se irem entertendo a ler os nomes dos jogos, distraindo-as de voltarem para as alças de mel!


Outro das páginas do David Cushman, desta vez de cones (Vladimir Shaparew), mas aqui não havia muitas abelhas.


Gosto muito deste tipo de saída pois se o escape de abelhas for colocado com ela perpendicular aos quadros, então ela abarca todos eles, e não é só no meio que as abelhas saem. Penso que há um modelo de escape de abelhas já bastante antigo (canadiano) cuja construção é parecida com a deste, com a excepção dos cones!

Em jeito de conclusão posso dizer que gostei muito de usar os escapes e acho-os uma boa maneira de "desabelhar" as alças.
Olhando ao numero de abelhas na alça antes de ser colocado o escape e aquando da cresta parece-me que o mais eficaz tenha sido o de 8 saídas que há nas lojas, ou então talvez o triangular, que também funcionou muito bem!
Notei que os escapes de cones não funcionaram tão bem e o que foi feito a partir da caixa de cds tinha ainda muitas abelhas, demasiadas para o objectivo que deve servir um escape de abelhas.
O problema dos cones dos tubos de silicone é que não são os mais apropriados, quanto a mim por serem muito compridos. Existem escapes de cones em que esses cones são feitos propositadamente para apicultura e esses talvez funcionem melhor.
Talvez usando cones de rede se possam obter melhores resultados.

Em cada colmeia, quando se retiraram as alças, a prancheta foi colocada a tapar, em cima do escapa abelhas, e um pormenor que reparei no escape de plástico de 8 saídas e provavelmente também acontecerá nos outros, é que quando fui devolver as alças um par de horas depois algumas abelhas algumas estavam entre o escape e a prancheta, ou seja, tinham encontrado o caminho e subiram. Isto leva-me a pensar que se tivesse marcado a cresta para mais tarde, talvez fosse encontrar mais abelhas nas alças!


Este ficou por experimentar!
Talvez para o ano...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Uma boa surpresa

Olhando para a imagem o titulo desta mensagem até podia ser David e Golias, mas não se trata disso, acreditem os meus amigos que o enxame no núcleo que se vê à esquerda na foto, junto ao destemido apicultor, já vem desde Março a tentar substituir a rainha e só agora foi bem sucedido!
Se não estou enganado recordo-me de em já em Março (talvez fins de Fevereiro) haver sinais de tentativa de substituição da rainha, e cheguei mesmo a vê-la um dia, tinha as asas um pouco ratadas. O tempo foi passando e as esfarrapadas desculpas de apicultores que por ali pasmam, sem fazer nada, lá foram deixando as abelhas entregues a si mesmas, nunca com sinais de zanganeiras, mas sem postura.
Uma coisa curiosa é que as abelhas puxavam umas poucas células reais que até desenvolviam e eram seladas, mas o que nascia delas não faço ideia! A única hipótese que me lembro é que a rainha que já não conseguisse fecundar os ovos que colocava nessas células reais.

Isto continuou até um dia em que a colmeia, nessa altura de três alças mas muito poucas abelhas, foi aberta e tinha já alguns labirintos feitos pela traça, e decidiu-se finalmente fazer alguma coisa. Para alguns talvez fosse melhor solução varrer as abelhas para fora da colmeia mas o Sr Armindo, como só tem mais duas colmeias para além deste núcleo, concordou em retirar um quadro com criação apropriada (forretas!!) de uma das outras para vermos o que elas faziam. Os quadros que apresentavam sinais de traça foram retirados, e o que antes habitava em três alças, acomodou-se até um pouco à larga num núcleo de 5 quadros, um destes o tal retirado da outra colmeia.
Demos tempo ao tempo e na seguinte visita, havia no quadro inserido uma célula de rainha já vazia mas ainda nenhuma postura, ou melhor, umas poucas células no centro do quadro com zangãos selados, dispostas um pouco aleatoriamente, e aí pensei que já não havia grande hipótese...

Quando hoje abrimos o núcleo, já com a ideia de despejar para fora as poucas abelhas que tinha, deparamos com apenas 2 quadros fortes, um único com postura de rainha, onde já havia até algumas células seladas! Ficamos muito contentes!!
Em algumas células havia dois ovos em vez de um, o que também dizem que pode ser sinal de rainha que começou a pôr há pouco tempo, já que neste caso não não podia ser por falta de espaço, espaço há bastante naquele núcleo...


Pouco tempo depois lá apareceu ela!

Apesar de ter visto anteriormente algumas células de zangão, e agora não me lembro da diferença de dias entre estes dois eventos, a rainha foi fecundada e começou a pôr e parece-me que o pequeno enxame a acolheu bem pondo de parte a potencial postura de obreira que a ser, estaria muito no inicio!
O problema é que a média de idades das obreiras deste enxame não deve ser famosa e isso implica um desenvolvimento muito lento e se pensarmos no desafio do inverno que aí vem...
Dava-lhe jeito uma ajudinha!

Até agora só ainda vi duas situações de enxames zanganeiros com poedeiras ou em risco de terem poedeiras e o curioso é que em ambas observei umas obreiras um pouco diferentes do normal que estou convencido, na minha ideia de abelheiro, serem as famigeradas obreiras poedeiras!
Quando procurava a rainha, saltou-me aos olhos uma abelha obreira que se destacava das outras por ser um bocado mais gorda e não se notarem tanto as riscas claras do abdómen, pelo que tinha um aspecto mais escuro. Pelo menos foi o que me pareceu!
Na foto não se vê bem a abelha em questão, de tal maneira que nem eu sei dizer se terá sido mesmo essa a abelha que vi, mas ao vivo distinguia-se claramente das outras obreiras, mais gordinha e com as riscas menos visíveis!
Estas coisas são sempre assim, ainda há pouco tempo consegui apanhar claramente uma abelha com a cera a sair debaixo das "escamas" do ventre e aí nem sequer tinha a maquina comigo!

Não sei até que ponto é possível (ou não é) a convivência da uma rainha com obreiras poedeiras, mas se esta que vi era uma poedeira, então estavam as duas presentes!
Tinha uma outra foto, da suposta poedeira da outra situação de zanganeira que vivi, que nesse caso foi encontrada morta após ter juntado as abelhas a um outro enxame que tinha rainha, mas tenho dificuldade em encontra-la entre a tralha toda que tenho no meu disco rígido...
É que a abelha, por ser preguiçosa, torna-se desarrumada!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Colmeia de “Noé”…

Por Joaquim Pifano e Ricardo Pinto

Se perguntarmos a 100 pessoas quais os bichos que vivem numa colmeia, decerto que 101 responderão objectivamente: Abelhas!!!

Se nos inquiridos houver apicultores, estes completarão com: “abelhas e varroas…”, e traças, enfim… por vezes ratos, formigas… Afinal? A colmeia alberga uma colónia ou uma comunidade? Diria até um autêntico ecossistema…

Não há apicultor que não tenha já aberto uma colmeia e encontrado entre a tampa e a prancheta um ninho de vespas, aranhas, escaravelhos e todo um rol de bicharada que só tem paralelo nas Fábulas de La Fontaine. Também não há apicultor que não cumprimente estes “visitantes” com um forte abraço entre o formão e a prancheta, deixando os bichos “derretidos” com o caloroso cumprimento.

O que fazem estes bichos na colmeia ou nas proximidades?

Alimentam-se, protegem-se, abrigam-se, nidificam, etc…

Para nosso benefício ou das abelhas: nada, ou muito pouco.

Mas na maioria das vezes são puramente comensais, nem aquecem nem arrefecem, não fazem bem nem fazem mal, há semelhança dos saudosos comprimidos “melhoral”. Mas o apicultor não está para contemplações: primeiro dispara e só depois pergunta, mata. Não tem quatro asas, seis patas, corpo listado, ferrão e produz mel, a conclusão é simples: está a mais, fora com ele!

Senhor Apicultor,

(vem aí crítica fundamentada…)

Desde há muito que a apicultura, as abelhas e os apicultores gozam de uma merecida fama (ainda sem proveito) acerca da nossa responsabilidade e importância ambiental. É demais reconhecido o papel das abelhas no equilíbrio natural, nomeadamente na polinização, reprodução e manutenção do coberto vegetal. Que culmina obviamente na produção de Oxigénio, consumo de Dióxido de Carbono, produção de alimentos e em última (e mais importante) análise: na nossa sobrevivência.

Ainda há a famosa frase de Albert Einstein acerca das abelhas e dos humanos, que o mais comum dos mortais ultimamente sabe de cor e salteado.

E aquela outra frase famosa acerca da esposa do Imperador Romano?

À mulher de César não lhe basta sê-lo, tem de parecê-lo

Se substituirmos o “Á mulher de César” por “Os apicultores como protectores do ambiente” resulta numa advertência também ela interessante…

Mas que falta fazem as formigas? As larvas de mosca?

Dois bons exemplos! Parecem escolhidos de propósito, ou não fosse eu a decidi-lo. Se não fossem esses animais, a vida na terra estaria impossibilitada pelo acumular de cadáveres e detritos, pois estes são alguns dos grandes responsáveis pela reciclagem da matéria orgânica.

Todos os outros animais que nidificam ou apenas se protegem na fortaleza que são os nossos apiários e colmeias, fazem parte desse sistema maior e muito complexo que é o “Equilíbrio Natural”. Onde cada componente é tão importante como todos os outros, ainda que essa importância não seja evidente ou esteja comprovada.

Se eles existem é porque fazem falta…

Já estou a ver os visitantes mais “vivaços” a pensarem: “gostava de saber como tu reages quando abres as colmeias e entre o zoológico todo que estás para aí a vender encontras as abelhas carregadas de varroa…”

Tenho duas respostas, mas acreditem que também reajo mal:

Se há quase duas décadas para cá que as abelhas são afectadas pelo Varroa destructor, havendo abelhas e varroas há milhares de anos, é porque decerto algum desequilíbrio provocou tal situação. Resta identificá-lo e combatê-lo.

Nesta resposta era suposto eu provar por “A” mais “B” que as varroas também são importantes para alguma coisa, e que decerto hão-de trazer algum benefício… mas vocês sabem a resposta. Ou não ???

Adiante, o tema hoje é mais soft…

Desde os primórdios do montedomel que penso em publicar qualquer coisa sobre os visitantes menos desejados das nossas colmeias, ainda assim indesejados… e que encontramos logo ao abrir do tampo.

A preguiça de levar a máquina fotográfica para o apiário, motivada pela dificuldade em retirar o própolis dos botões, fez com que o projecto fosse sendo sucessivamente adiado. Até ao dia em que numa visita ao blog Abelhas e Mel, acerca das vespas sobre as quais versava um dos post’s, me ocorreu de novo o tema.

Resolvi deixar um comentário onde sugeri que se podia desenvolver um trabalho curioso sobre os bichos que “convivem” com as abelhas. Comprometendo-me assim publicamente não havia como voltar atrás…

Não tardou uma semana sem que o Ricardo Pinto (Blog Abelha Preguiçosa) me presenteasse com uma série de fotos que coleccionara sobre o tema em causa. Algum tempo depois mais umas dúzias de imagens de bichos invasores de colmeias.

Resolvemos então fazer a publicação em conjunto nos dois blog’s, esperando com isso sensibilizar os apicultores para a importância ambiental (agora acrescida) das nossas colmeias servindo de refúgio a uma infinidade de seres vivos… e até às abelhas!!!

Agora os bichos…

Os sardões ou lagartos e as lagartixas ou sardaniscas…

Estas já são um clássico à sombra das colmeias, onde se demoram à espera de uma abelha mais incauta e … já está! Menos uma!!! Mas é apenas menos uma em largos milhares e a nossa herpetofauna está sempre em perigo.

Os insectos…

Estes ainda pertencem à família, em particular as vespas e as formigas. São os mais comuns e abundantes, mas de qualquer forma: todos perseguidos pelo apicultor:

A vespa dos ninhos de papel, como não passam o Inverno em colónia, apenas sobrevivem as fêmeas férteis, procuram locais quentes como as colmeias para se abrigarem, apenas pedem um pouco de calor.

Esta vespa solitária já não quer só o calor, também solicitou companhia…

Uma abelha solitária. Creio que é ela que constrói os favos coloridos à base de ervas mastigadas, que enche posteriormente com pólen.

Estes favos já não estão muito coloridos, pois a massa vegetal já se decompôs, mas quando estão verdes fazem um bonito contraste com o laranja do pólen.

As formigas, as primas sem asas, quando em grande quantidade também provocam estragos. Houve quem ganhasse fortunas a vender suportes de colmeias com reservatório para óleo queimado e assim afugentar as formigas.

Os lepidópteros ou borboletas, quase sempre inofensivos, aparte a Acherontia atropos (borboleta caveira), tal como a conhecidíssima traça:

O Fasmídeo ou bicho-pau, muito utilizado em estudos de genética, nunca me pareceu que este simpático bichinho também visitasse as colmeias… De qualquer forma, o Ricardo crê que este caiu para dentro da colmeia quando inclinou a prancheta.

O orifício de um abelhão.

A “rapa” ou bicha-cadela, o aspecto assustador pouco corresponde à sua actividade…

Um coleóptero. O aspecto metálico e as cores iridescentes fazem deste animal um dos mais bonitos da nossa fauna.

Um curioso casulo, talvez se trate de uma ninfa de borboleta.

A larva não deve produzir seda e desenrasca-se com uma cobertura de pauzinhos… segundo o Ricardo, na região dele há uns parecidos muito bons para a pesca.

A mim lembram-me uma história engraçada:

Há uns anos atrás, quando visitava apiários dos associados na Serra de S. Mamede, passava perto de um daqueles bares isolados, muito coloridos e com uma luz vermelha sobre a porta de entrada, chamava-se "o casulo".

Desde então e sempre que vejo uma destas estruturas, "uma borboleta rodeada de pauzinhos" lembro-me logo do dito bar...

O meu preferido: ovos de insecto.

À primeira vista parece que o Ricardo consertou a colmeia aparafusando-a no emalhetado, mas não se trata disso. O engenhoso insecto fez uma postura em forma de hexágono, o que nos deixa a pensar sobre a preferência da Natureza por esta forma geométrica.

Os aracnídeos.

O aspecto simpático de qualquer um deles deixa logo adivinhar as respectivas intenções…

Os ácaros, também são aracnídeos: basta contar-lhe as patas e se encontrar quatro pares é disso mesmo que se trata, primos da Varroa, não sei se os da foto são amistosos ou é mais uma que aí vem…

Uma toca de coelho. Já li qualquer coisa sobre a preferência destes e doutros pela proximidade do apiário, não sei se terá algo a ver com protecção…

Esta “estória” poderá ter continuação, basta que nos enviem fotos e relatos de outros animais que vivam nas colmeias ou na proximidade dos apiários.

À laia de epílogo:

Nunca tive coragem, durante a catequese na infância, de perguntar ao Padre como é que Noé fez no caso das abelhas. Nem sei sequer se já alguém se preocupou com o assunto, mas é do conhecimento geral que não se pôde limitar a levar só um zangão e uma rainha como nos outros animais.

Uma certeza tenho eu no entanto: independentemente do número vieram “carregadas” de Varroa.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

En un lugar de la Mancha...

...de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor.

A minha colmeia com entrada por cima, só para contrariar!



Do bom sucesso que teve o valoroso D. Quixote na espantosa e jamais imaginada aventura dos moinhos de vento, com outros sucessos dignos de feliz recordação: