domingo, 20 de junho de 2010

A Caixa de Marburg

Tomei conhecimento desta caixa através de uma página do Sr David A. Cushman que é um sitio onde se encontra de tudo relacionado com apicultura. A ultima que encontrei lá foi a história de um apicultor que, para provocar a sua renovação, maltratava um pouco as rainhas, não ao ponto de não poderem pôr, mas de maneira a que as abelhas sentissem necessidade de a substituir. Grande artista :)
A caixa de Marburg, que tem o nome de uma cidade da Alemanha (será por isso que se chama assim?), é no fundo uma caixa-núcleo especial e é baseada no principio de que as abelhas mais novas, entre as quais as abelhas amas, têm tendência a procurar abrigo da luz quando sacudidas ou varridas dos quadros, e por isso serve para separar estas das abelhas de mais idade.
As abelhas mais novas, e nomeadamente as abelhas amas, são importantes porque são as que estão preparadas para alimentar a criação e sem elas é muito mais lento, senão mesmo muito difícil, o desenvolvimento de uma colónia. São por isso também são muito importantes quando se querem fazer rainhas, quer na criação de rainhas propriamente dita, quer nos desdobramentos, pois também aí são criadas rainhas.
A glândula hipofaríngea, situada na cabeça da abelha, é a responsável pela segregação da geleia real e por isso importante na alimentação nos primeiros momentos das larvas e mais ainda na alimentação das larvas de futuras rainhas. Esta glândula é activada poucos dias após o nascimento da abelha e a partir de certa idade deixa de ser usada pela abelha, sobre os dias exactos em que isto acontece estou certo que há muitas teorias, mas também certamente tudo dependerá das necessidades do enxame. Mas também já li que as abelhas mais velhas ainda podem reactivar essa glândula, em caso de emergência, mas para isso têm que se empanturrar pólen durante alguns dias, tempo que é precioso e fulcral quando o que está em causa é a alimentação de uma futura rainha.

Para escolher as abelhas mais novas não é obrigatoriamente necessária uma caixa destas mas ajuda! Se der-mos um toque ligeiro num quadro as primeiras abelhas a levantar voo são geralmente mais velhas do que as que permanecem agarradas ao quadro, mas num caso de um quadro com criação teoricamente este não deve levar pancadas ou sofrer abanões fortes para não prejudicar a criação. Neste caso é melhor varrer as abelhas!
Se se varrerem as abelhas para um pano no chão e se colocar um núcleo deitado na beira desse pano, o que acontece é mais ou menos o mesmo que com a caixa de Marburg, abelhas que voam e abelhas que caminham em conjunto para dentro do núcleo onde estão abrigadas da claridade.
Se o terreno for inclinado, melhor ainda porque as abelhas gostam de subir!
Pode-se também utilizar um funil para receber as abelhas varridas, se forem varridas com calma em principio as mais velhas vão voar de regresso à colmeia e as mais novas vão para dentro da caixa.

Para utilizar a caixa varrem-se as abelhas dos quadros na parte da caixa que forma uma espécie de funil e, enquanto algumas das abelhas voam regressando à colmeia, há outras que se dirigem á escuridão da caixa e serão essas as que nos interessam. Como é óbvio esta separação não é perfeita mas a maioria das abelhas que entrarão na caixa serão abelhas novas!







Pode ser utilizada, por exemplo, para criar uma espécie de enxame artificial onde depois se introduzirá uma rainha fechada em gaiola, ou para escolher as abelhas para povoar núcleos de fecundação. Quando o objectivo for aceitar uma rainha a ser fecundada então é importante que não vão com as abelhas zangãos do mesmo apiário para evitar possíveis problemas de consanguinidade e por isso a existência da grade excluidora. Num desdobramento que se leve para outro apiário, isto também é capaz de ser importante.
Dependendo do objectivo também pode ser importante salvaguardar que a rainha não esteja nesses quadros a varrer, embora eu imagine que se estivermos necessitados, talvez seja uma forma radical de encontrar a rainha já que ela não vai passar a excluidora (digo eu!).


Só Zangãos!

Mas toda esta conversa é um bocado falar de cor, porque eu nunca me meti nestas aventuras e utilizei esta caixa apenas para reforçar com abelhas um dos desdobramentos que fiz este ano. Fiz dois desdobramentos, os únicos até agora, e tive uma taxa de sucesso de 50% o que não é muito bom mas podia ser pior! No caso que falhou vi vestígios de nascimentos de rainhas mas a partir daí não sei bem o que se passou e depois a colmeia ficou com sintomas de zanganeira.

Na minha caixa decidi incluir uma parede de rede de modo a deixar entrar mais ar a enxames em viagem ou para que seja possível pulverizar as abelhas antes de as despejar para uma colmeia. Depois de bem borrifadas parece que temos ali uma caixa de feijões e elas deixam fazer tudo, depois e durante os dias a seguir é que já não estão tão bem dispostas!
Utilizo-a também como caixa de ferramentas e como caixa onde pouso alguns quadros quando se inspecciona uma colmeia.
Para além disso já me deu jeito em inúmeras ocasiões!


http://www.dave-cushman.net/bee/marburg.html
http://www.dave-cushman.net/bee/marburguse.html

domingo, 13 de junho de 2010

Dar má fama às abelhas

Uma boa receita para levar umas ferradelas é exagerar na confiança, não usar fumo ao abrir a colmeia, não estar devidamente protegido, etc... Coisas do género!
Ao receber alguns amigos e perante o meu incentivo e a sua curiosidade em visitar as abelhas lá acabamos por ir todos, um pouco mal equipados por sermos muitos para o equipamento existente, mas era apenas visita de médico.
As abelhas à entrada não nos pareceram suficientes e como já há algum tempo que andava para espreitar aquela colmeia decidi fazê-lo, levantando-lhe só a tampa pois não estava tempo bom para mais do que isso.
Para minha surpresa tinha tido um grande aumento de abelhas e pouco tempo depois de estar aberta as abelhas zangaram-se e correram connosco!
Entre as abelhas ainda houve algumas vitimas e entre nós apenas duas, uma delas com múltiplos ferimentos : )


Já me tinha acontecido ser recebido com igual ou mais agressividade, mas nunca tão rapidamente e por tão pouco. As contas saíram furados porque o que eu pretendia que fosse uma sessão elucidativa sobre o generoso bicho, acabou por dar má fama às abelhas.
Lembrei-me depois que tinha mexido no estrado higiénico anteriormente e talvez isso tenha servido para dar o alarme, ou então essa colmeia pode andar com um comportamento mais defensivo por alguma outra razão que não a nossa presença.
A questão dos perfumes e cheiros também é uma possibilidade pois muitas vezes o que para nós é uma essência agradável, para elas pode ser enervante. E se calhar há condições meteorológicas que levam as abelhas a ser mais ou menos agressivas quando se lhe invade a casa!
Tive pena da Carla porque sei que não é fácil para alguém que não está habituado a estas coisas ver-se de repente assim atacado. Disse-me depois que não servia para esta actividade mas eu discordo porque soube manter a calma e isso aqui é muito importante.
Mas ainda bem que a Francisca não foi porque não sabíamos se era ou não alérgica, e o Filipe e o Mário ainda se safaram mas haverá outras oportunidades...


Mas também tive pena das abelhas porque no fim ainda foram assaltadas.



Para minimizar os estragos, como se costuma dizer!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Favo de Abelha

É debaixo desta espécie de escamas no ventre da abelha que sai a cera e eu ainda não consegui fotografar nenhuma no acto em parte porque nessa altura as abelhas estão agarradas umas às outra formando um cacho e é muito difícil apanhar a cera a sair.
A cera é depois removida e trabalhada com as mandíbulas para construir o favo.


Como disse antes, aqui estão elas de "patas dadas" e surpresas por terem sido interrompidas.
É um sinal dos tempos já não haver respeito por quem trabalha.


Aqui dá impressão que o apicultor, para além de andar a poupar na cera moldada, também anda a poupar nos arames!
Isto é que vai uma crise!


Pormenor do canto superior direito do quadro na foto anterior onde mais uma vez estão a construir favo.


O favo nem sempre é começado num só ponto e nem sempre tem uma geometria perfeita.
Onde se encontram os favos e nas intersecções de zonas de criação de obreiras com criação de zangãos, ou com alvéolos de mel, as abelhas são obrigadas a dar um jeitinho e muitas vezes mandam à fava o desenho em "Y" do fundo dos alvéolos, de tal maneira que o próprio Michael Housel, que foi quem traduziu do abelhês esta teoria, se sentiria frustrado.
Acho que isto tem a ver com o sentido de economia da abelha que não desperdiça nada, nem espaço.
Ou se calhar são abelhas que não sabem ler nem escrever ou vivem pela máxima de um professor que tive, que tinha em cima do piano um quadro com o escrito:
"Se eu soubesse ler era analfabeto".


Desde que a colmeia esteja bem nivelada é notável a capacidade que têm para incrustar o favo nos arames, um mistério para mim, e muito superior a qualquer método ou técnica humana. Com elas parece-me que não acontece tanto a falta postura na linha dos arames de que falei aqui há uns tempos (Subir aos Arames).
Às vezes enquanto umas andam a construir de uma maneira, as outras andam com outra medida mas no fim encontram-se e corre tudo bem como na foto em cima em que as da esquerda andaram a construir alvéolos de obreira e as da direita de zangãos. Provavelmente isto passou-se em fases diferentes do desenvolvimento da colónia e por as mais variadas razões houve necessidade de aumentar o numero de zangãos.


O mesmo quadro que na foto anterior mas do outro lado e mais à frente no tempo, claro.
Pondo de parte a questão dos arames que é até um pouco "leve", é sempre bom sinal ver tão poucas falhas de criação num favo. Eu encaro-o como um indicador de saúde e boa genética da rainha!
O borrão no lado esquerdo da foto não são abelhas que desejaram permanecer incógnitas mas sim o própolis que é inevitável que se agarre a tudo.
Ao longo desse dia tirei muitas fotos e andei o dia todo sem reparar que tinha essa mancha na objectiva. Tanta foto estragada!


Às vezes os favos tomam formas um pouco estranhas!


Este devia estar num museu! ; )