Se perguntarmos a 100 pessoas quais os bichos que vivem numa colmeia, decerto que 101 responderão objectivamente: Abelhas!!!
Se nos inquiridos houver apicultores, estes completarão com: “abelhas e varroas…”, e traças, enfim… por vezes ratos, formigas… Afinal? A colmeia alberga uma colónia ou uma comunidade? Diria até um autêntico ecossistema…
Não há apicultor que não tenha já aberto uma colmeia e encontrado entre a tampa e a prancheta um ninho de vespas, aranhas, escaravelhos e todo um rol de bicharada que só tem paralelo nas Fábulas de La Fontaine. Também não há apicultor que não cumprimente estes “visitantes” com um forte abraço entre o formão e a prancheta, deixando os bichos “derretidos” com o caloroso cumprimento.
O que fazem estes bichos na colmeia ou nas proximidades?
Alimentam-se, protegem-se, abrigam-se, nidificam, etc…
Para nosso benefício ou das abelhas: nada, ou muito pouco.
Mas na maioria das vezes são puramente comensais, nem aquecem nem arrefecem, não fazem bem nem fazem mal, há semelhança dos saudosos comprimidos “melhoral”. Mas o apicultor não está para contemplações: primeiro dispara e só depois pergunta, mata. Não tem quatro asas, seis patas, corpo listado, ferrão e produz mel, a conclusão é simples: está a mais, fora com ele!
Senhor Apicultor,
(vem aí crítica fundamentada…)
Desde há muito que a apicultura, as abelhas e os apicultores gozam de uma merecida fama (ainda sem proveito) acerca da nossa responsabilidade e importância ambiental. É demais reconhecido o papel das abelhas no equilíbrio natural, nomeadamente na polinização, reprodução e manutenção do coberto vegetal. Que culmina obviamente na produção de Oxigénio, consumo de Dióxido de Carbono, produção de alimentos e em última (e mais importante) análise: na nossa sobrevivência.
Ainda há a famosa frase de Albert Einstein acerca das abelhas e dos humanos, que o mais comum dos mortais ultimamente sabe de cor e salteado.
E aquela outra frase famosa acerca da esposa do Imperador Romano?
“À mulher de César não lhe basta sê-lo, tem de parecê-lo”
Se substituirmos o “Á mulher de César” por “Os apicultores como protectores do ambiente” resulta numa advertência também ela interessante…
Mas que falta fazem as formigas? As larvas de mosca?
Dois bons exemplos! Parecem escolhidos de propósito, ou não fosse eu a decidi-lo. Se não fossem esses animais, a vida na terra estaria impossibilitada pelo acumular de cadáveres e detritos, pois estes são alguns dos grandes responsáveis pela reciclagem da matéria orgânica.
Todos os outros animais que nidificam ou apenas se protegem na fortaleza que são os nossos apiários e colmeias, fazem parte desse sistema maior e muito complexo que é o “Equilíbrio Natural”. Onde cada componente é tão importante como todos os outros, ainda que essa importância não seja evidente ou esteja comprovada.
Se eles existem é porque fazem falta…
Já estou a ver os visitantes mais “vivaços” a pensarem: “gostava de saber como tu reages quando abres as colmeias e entre o zoológico todo que estás para aí a vender encontras as abelhas carregadas de varroa…”
Tenho duas respostas, mas acreditem que também reajo mal:
1ª Se há quase duas décadas para cá que as abelhas são afectadas pelo Varroa destructor, havendo abelhas e varroas há milhares de anos, é porque decerto algum desequilíbrio provocou tal situação. Resta identificá-lo e combatê-lo.
2ª Nesta resposta era suposto eu provar por “A” mais “B” que as varroas também são importantes para alguma coisa, e que decerto hão-de trazer algum benefício… mas vocês sabem a resposta. Ou não ???
Adiante, o tema hoje é mais soft…
Desde os primórdios do montedomel que penso em publicar qualquer coisa sobre os visitantes menos desejados das nossas colmeias, ainda assim indesejados… e que encontramos logo ao abrir do tampo.
A preguiça de levar a máquina fotográfica para o apiário, motivada pela dificuldade em retirar o própolis dos botões, fez com que o projecto fosse sendo sucessivamente adiado. Até ao dia em que numa visita ao blog Abelhas e Mel, acerca das vespas sobre as quais versava um dos post’s, me ocorreu de novo o tema.
Resolvi deixar um comentário onde sugeri que se podia desenvolver um trabalho curioso sobre os bichos que “convivem” com as abelhas. Comprometendo-me assim publicamente não havia como voltar atrás…
Não tardou uma semana sem que o Ricardo Pinto (Blog Abelha Preguiçosa) me presenteasse com uma série de fotos que coleccionara sobre o tema em causa. Algum tempo depois mais umas dúzias de imagens de bichos invasores de colmeias.
Resolvemos então fazer a publicação em conjunto nos dois blog’s, esperando com isso sensibilizar os apicultores para a importância ambiental (agora acrescida) das nossas colmeias servindo de refúgio a uma infinidade de seres vivos… e até às abelhas!!!
Agora os bichos…
Os sardões ou lagartos e as lagartixas ou sardaniscas…
Estas já são um clássico à sombra das colmeias, onde se demoram à espera de uma abelha mais incauta e … já está! Menos uma!!! Mas é apenas menos uma em largos milhares e a nossa herpetofauna está sempre em perigo.
Os insectos…
Estes ainda pertencem à família, em particular as vespas e as formigas. São os mais comuns e abundantes, mas de qualquer forma: todos perseguidos pelo apicultor:
A vespa dos ninhos de papel, como não passam o Inverno em colónia, apenas sobrevivem as fêmeas férteis, procuram locais quentes como as colmeias para se abrigarem, apenas pedem um pouco de calor.
Esta vespa solitária já não quer só o calor, também solicitou companhia…
Uma abelha solitária. Creio que é ela que constrói os favos coloridos à base de ervas mastigadas, que enche posteriormente com pólen.
Estes favos já não estão muito coloridos, pois a massa vegetal já se decompôs, mas quando estão verdes fazem um bonito contraste com o laranja do pólen.
As formigas, as primas sem asas, quando em grande quantidade também provocam estragos. Houve quem ganhasse fortunas a vender suportes de colmeias com reservatório para óleo queimado e assim afugentar as formigas.
Os lepidópteros ou borboletas, quase sempre inofensivos, aparte a Acherontia atropos (borboleta caveira), tal como a conhecidíssima traça:
O Fasmídeo ou bicho-pau, muito utilizado em estudos de genética, nunca me pareceu que este simpático bichinho também visitasse as colmeias… De qualquer forma, o Ricardo crê que este caiu para dentro da colmeia quando inclinou a prancheta.
A “rapa” ou bicha-cadela, o aspecto assustador pouco corresponde à sua actividade…
Um coleóptero. O aspecto metálico e as cores iridescentes fazem deste animal um dos mais bonitos da nossa fauna.
Um curioso casulo, talvez se trate de uma ninfa de borboleta.
A larva não deve produzir seda e desenrasca-se com uma cobertura de pauzinhos… segundo o Ricardo, na região dele há uns parecidos muito bons para a pesca.
A mim lembram-me uma história engraçada:
Há uns anos atrás, quando visitava apiários dos associados na Serra de S. Mamede, passava perto de um daqueles bares isolados, muito coloridos e com uma luz vermelha sobre a porta de entrada, chamava-se "o casulo".
Desde então e sempre que vejo uma destas estruturas, "uma borboleta rodeada de pauzinhos" lembro-me logo do dito bar...
O meu preferido: ovos de insecto.
À primeira vista parece que o Ricardo consertou a colmeia aparafusando-a no emalhetado, mas não se trata disso. O engenhoso insecto fez uma postura em forma de hexágono, o que nos deixa a pensar sobre a preferência da Natureza por esta forma geométrica.
Os aracnídeos.
O aspecto simpático de qualquer um deles deixa logo adivinhar as respectivas intenções…
Os ácaros, também são aracnídeos: basta contar-lhe as patas e se encontrar quatro pares é disso mesmo que se trata, primos da Varroa, não sei se os da foto são amistosos ou é mais uma que aí vem…
Uma toca de coelho. Já li qualquer coisa sobre a preferência destes e doutros pela proximidade do apiário, não sei se terá algo a ver com protecção…
Esta “estória” poderá ter continuação, basta que nos enviem fotos e relatos de outros animais que vivam nas colmeias ou na proximidade dos apiários.
À laia de epílogo:
Nunca tive coragem, durante a catequese na infância, de perguntar ao Padre como é que Noé fez no caso das abelhas. Nem sei sequer se já alguém se preocupou com o assunto, mas é do conhecimento geral que não se pôde limitar a levar só um zangão e uma rainha como nos outros animais.
Uma certeza tenho eu no entanto: independentemente do número vieram “carregadas” de Varroa.
Excelente trabalho de paciência, perspicácia e concentração do Ricardo Pinto nas "conseguidas" fotos de uma autêntica enciclopédia.
ResponderEliminarFaltou aí um animalzito; o homem. Não no sentido de predador, porque não se pretende que ataque ou destrua a abelha, mas talvez mais de explorador, no sentido de "chupista" do que a abelha produz.
Parabéns pelo trabalho, essencialmente pela partilha e comunicabilidade entre dois blogues; cosíssima rara neste país de solitários cada um a remar para seu lado em "desconhecimento" absoluto da palavra PARTILHA.
Trabalho gratificante o Vosso.
Parabéns.
Forte Abraço
Olá Octávio, Bem lembrado!
ResponderEliminarFaltou o Bicho homem (ou mulher, porque não?)
Mas faltaram com certeza muitos outros!
Um abraço
Amigo!
ResponderEliminarPelo que entendi o trabalho não está acabado LOLOLOL
Xiça amigo, lol, tive uma sensação de DEJAVU quando estava a fazer zapping pela lista de blogs da minha biblioteca, Ricardo está excelente, como disse no Monte, eu só tiro fotos as abelhas, para mim o resto é como se estragasse as imagens lol, mas pelos vistos não, bem, tem uma ou outra que enfim... lol para além das abelhas temos as colmeias, lol que também podem ser fotografadas, agora quadrúpedes, rastejantes, e ainda por cima verdes?? aí senhor lol
ResponderEliminarAbraços
Ferradelas
Olá Mário,
ResponderEliminarEsses quadrúpedes são na realidade uma boa companhia e o curioso é que a grande parte dos que vejo por lá andam sempre a rondar a mesma colmeia, a que tem o seu simbolo!!
Espero é que nunca encontrar lá um Leão ou um ex-treinador, entre o telhado e a prancheta!
Abraço
o ricardo o armindo nao teve medo de pegar nas abelhas ,parecem que elas ja o conhecem .parabens aos dois ,bj
ResponderEliminarOlá Ricardo
ResponderEliminarparabéns pelo teu blog.
não percebo porque mantens uma dúvida desde a tua infancia(arca de noé), quando ainda estás a tempo de a tirar por exemplo com o padre Joaquim, que certamente,eu acredito, terá muito gosto em te esclarecer.
grande abraço
Paulo
Olá!
ResponderEliminarBem lembrado!
Quando vir o Padre Joaquim ou outro hei-de perguntar.
Estou para ver que resposta dará!